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12 de Setembro de 2023
A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune, em que as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença afeta cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo, sendo 40 mil somente no Brasil, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos.
As causas da esclerose múltipla ainda são desconhecidas, mas estudos indicam que a doença é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Para desmistificar o assunto, a neurologista Mayra Magalhães Silva, do Hospital Dia Campo Limpo, unidade administrada pelo CEJAM em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, falou sobre o assunto, explicando o que é a esclerose múltipla, seus sintomas e as principais formas de tratamento.
O que é a esclerose múltipla?
Uma doença neurológica autoimune crônica, provocada por mecanismos inflamatórios e degenerativos que comprometem a bainha de mielina, que reveste e protege as células nervosas. Na esclerose múltipla, o próprio corpo ataca essa bainha, uma vez que os anticorpos do próprio paciente a confundem com um agressor (um micro-organismo externo como uma bactéria, por exemplo). Com a mielina e os axônios lesionados pelas inflamações, as funções coordenadas pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal ficam comprometidas.
Quais os tratamentos que o SUS oferece para a doença?
Ainda que seja uma doença sem tratamento curativo, existem duas abordagens disponíveis no SUS: tratamento agudo do surto da doença e tratamento crônico da doença para evitar novos surtos e sequelas de inflamação.
1) Tratamento agudo: o paciente procura o pronto atendimento, onde pode ser devidamente diagnosticado e receberá o tratamento intravenoso com corticoides para conter a inflamação;
2) Tratamento crônico: assim que recebe o diagnóstico, pode dar início ao tratamento com medicações que têm mecanismo imunológico específico para conter novas inflamações da doença. Essas medicações são conhecidas como medicações “modificadoras da doença” e são oferecidas gratuitamente aos pacientes pelo SUS através da Farmácia de Alto Custo. O objetivo principal desses medicamentos é frear a atividade e, dessa forma, evitar ou reduzir a incapacitação e as sequelas permanentes.
O atendimento multidisciplinar (com fisioterapia, terapia ocupacional e fisiatra) também é fundamental para os pacientes, por se tratar de uma doença ainda sem cura. A avaliação das condições psicológicas também deve fazer parte do atendimento regular das pessoas com esclerose múltipla.
Quais são os sintomas? E quais podem servir de alerta para buscar o serviço médico?
Alguns locais no sistema nervoso podem ser alvo preferencial da desmielinização (danos à mielina ao redor dos nervos), característica da doença, o que explica os sintomas mais frequentes: o cérebro, o tronco cerebral, os nervos ópticos e a medula espinhal. Sendo assim, os sinais e sintomas mais comuns incluem baixa acuidade visual súbita de um dos olhos, visão dupla, dormência, formigamento, vertigem, nistagmo, fraqueza dos membros, desequilíbrio ao andar, incontinência e retenção urinária. Atenção, por isso, para alterações visuais e para fraqueza em algum membro, que ocorreram de forma súbita e que podem indicar sintomas iniciais de esclerose múltipla. Esses devem ser avaliados devidamente por um neurologista.
Como é feito o diagnóstico? Existem dificuldades de realizá-lo de imediato?
Para o diagnóstico da esclerose múltipla, são utilizados os Critérios de McDonald de 2017, que consideram vários aspectos clínicos e de imagem, associado à análise do líquor LCR (líquido cefalorraquidiano), material extraído por uma punção na coluna lombar, com a pesquisa de marcadores específicos. A Ressonância Magnética (RM) de crânio e coluna (medula espinhal) é a principal ferramenta para o diagnóstico das doenças desmielinizantes do sistema nervoso central. A principal dificuldade para o diagnóstico é que, muitas vezes, os sintomas são confundidos com outras doenças, como Acidente Vascular Cerebral (AVC) e distúrbios psiquiátricos. Isso decorre do fato de, muitas vezes, o paciente iniciar sintomas inespecíficos e desconhecer a existência de doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla. A demora no diagnóstico acaba tendo um impacto muito negativo no paciente. Por isso, diagnosticar a EM precocemente faz toda a diferença. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maior a chance de modificar o curso natural da doença em longo prazo – reduzindo o número de surtos, lesões e sequelas neurológicas.
Existem fatores que podem potencializar o aparecimento da doença em certas pessoas?
A doença atinge, geralmente, pessoas jovens, em média, entre 20 e 40 anos, predominando entre as mulheres. As causas envolvem predisposição genética (com alguns genes já identificados que regulam o sistema imunológico) e combinação com fatores ambientais, que funcionam como “gatilhos”:
- Infecções virais (vírus Epstein-Barr)
- Baixa exposição ao sol e sua consequente baixa de vitamina D
- Exposição ao tabagismo
- Obesidade
- Exposição a solventes orgânicos
Esses fatores ambientais são considerados na fase da adolescência, um período de maior vulnerabilidade.
Pesquisas indicam que a esclerose múltipla atinge mais mulheres do que homens. Por que isso acontece?
Assim como todas as outras doenças autoimunes, a esclerose múltipla tem, sim, maior prevalência em mulheres. Essa diferença, em princípio, ocorre devido a fatores hormonais envolvidos na modulação do sistema imunológico. Uma outra evidência para esse quadro é o fato de as mulheres apresentarem índices mais baixos de vitamina D do que os homens, o que leva à maior incidência da doença, uma vez que a deficiência desta vitamina no organismo leva ao aumento da capacidade inflamatória das células do sistema imunológico.
Como as mulheres, especificamente, podem cuidar da saúde para se prevenir contra a esclerose múltipla?
Ter uma alimentação saudável e hábitos de vida saudáveis, com prática de atividade física (se possível, ao ar livre para melhorar a exposição solar e o ganho de vitamina D), é a melhor forma de prevenir qualquer doença neurológica. Manter a vacinação em dia, principalmente durante a fase de infância e adolescência, ajuda a prevenir infecções virais que podem acabar sendo gatilho para desenvolver doenças autoimunes no futuro. Conversar com seu médico habitual sobre a necessidade de reposição de vitamina D e cálcio, principalmente no período após a menopausa, uma vez que após este período há uma queda natural tanto de cálcio quanto de vitamina D no organismo.
Fonte: Comunicação, Marketing e Relacionamento
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