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23 de Abril de 2015
Já há algum tempo, a episiotomia está longe de ser uma unanimidade entre médicos e pacientes. Em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu uma ampla pesquisa que conclui que o procedimento é uma “prática frequentemente utilizada de modo inadequado”. Coordenadora Geral do Programa Parto Seguro, Dra Anatália Basile falou sobre esse procedimento, considerado em muitos casos como violência obstétrica.
O que é episiotomia?
Trata-se de um corte profundo e extenso na vagina para ampliação do canal vaginal. Como todo o procedimento cirúrgico, deve ser realizada com o consentimento da mulher.
Por que existe atualmente o interesse na mudança de cultura de reduzir o grande número de realizações dessa técnica?
O principal motivo é que as evidências científicas demonstram que o procedimento episiotomia de rotina não é necessário, além de ser considerado prejudicial e ineficaz. Seu uso liberal ou rotineiro deve ser abandonado.
A mulher, durante o pré-natal, pode informar a equipe para que não seja feita a episiotomia?
Sim. Hoje já não há mais unanimidade para realização desse procedimento entre os profissionais e muitos já abandonaram essa prática de rotina. No momento do parto, a mulher deve expressar seu desejo pela não realização da episiotomia. Além disso, ela deve ficar à vontade para escolher a posição no parto que se sentir mais confortável. Muitos hospitais públicos e particulares já oferecem essa possibilidade, que é um direito da mulher assegurado por lei.
Quais podem ser os prejuízos desse procedimento na vida pessoal e sexual da mulher?
Esta prática de rotina em serviços públicos e privados, realizada sem indicação constitui em uma "mutilação da genitália" feminina. O procedimento episiotomia é um trauma em si, o que não justifica sua utilização para a prevenção de outro trauma. Estudos de revisão sistemática da Biblioteca Cochrane atualizada (ONG mundial que revisa publicações da medicina) apontam que episiotomia aumenta a dor pós parto, a perda sanguínea, a frequência de infecções, edema e hematoma.
Existe a crença popular de que “Se não cortar por cima, na cesárea, corta-se por baixo, no parto normal, o que ainda vem acompanhado de contrações". Como desmistificar este pensamento?
O corpo da mulher foi criado com a possibilidade de procriar. Entretanto, a cultura da cesárea e da episiotomia fez com que muitas mulheres desacreditassem do parto normal. Isso trouxe o medo, a fragilidade e permitiu que se colocasse esse momento unicamente na responsabilidade de um profissional. Transformando o corpo feminino em incapaz de passar pelo processo normal de parto. Resgatar a cultura do parto normal é enxergá-lo como algo natural. Sentir contrações não é nada mais do que a comunicação do corpo da mulher com seu feto, informando que está na hora de nascer.
Como, diante desses e outros fatos, convencer a mulher a optar pelo parto normal? Ouvimos tanto sobre a redução da violência obstétrica, no entanto, o parto normal, parece facilitar tal ato.
A ausência de informação já é uma violência obstétrica. Quando um falso diagnóstico recomenda uma cesárea também é uma violência que priva o corpo da mulher de viver essa experiência. A violência deve ser combatida tanto no parto normal, como no parto cesáreo. O importante é o profissional passar segurança. O que a mulher nesse momento deseja é sentir-se cuidada e bem tratada, a técnica ela acredita que o profissional tem e aceita a recomendação. Nas universidades deve-se trabalhar a forma de relacionamento com a gestante no momento do parto e fortalecer os profissionais no modelo de assistência humanizada. Afinal, estar ao lado no trabalho de parto é a essência da obstetrícia.
Foto: Dra. Anatalia Basile é doutora pela Universidade Federal de São Paulo com estudo clínico randomizado “Riscos e benefícios maternos e neonatais das posições lateral-esquerda e vertical semi -sentada no parto”.
Fonte: Luciana Zambuzi - Assessoria de Imprensa CEJAM e Milena Ramos - Assessora de Comunicação e Imprensa da Autarquia Hospi
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